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sábado, 15 de novembro de 2008

Reportagem: Voleibol Feminino

A noite é fria e pouco convidativa a grandes actividades físicas. Mas isto parece nunca preocupar as atletas do Voleibol do Boavista, que treinam sempre já escureceu há algum tempo. Quando o treino começa, o pavilhão enche-se de risos e boa disposição, e as temperaturas baixas e a hora do dia são rapidamente esquecidas.
O Voleibol é uma modalidade de grande tradição no Boavista FC. Durante vários anos, os jogos eram acompanhados por muitos adeptos no saudoso Pavilhão Acácio Lello, e as camisolas axadrezadas amealhavam títulos e conquistas. Os tempos são outros: com o clube a atravessar os já conhecidos problemas financeiros, as modalidades amadoras também se ressentem. Mas a atitude e o gosto no trabalho fica igual, ou até aumenta. "Essa foi uma fase de loucura, a certa altura perdeu-se um bocado a noção das coisas", desabafa José Palmeira, Director do Voleibol do Boavista.
Enquanto as jogadoras fazem os habituais exercícios de aquecimento, sob as ordens e olhar atento do Prof. Carlos Ferreira, José Palmeira e Graziela Palmeira, os dois "motores" do Voleibol axadrezado, explicam o momento que a modalidade atravessa. As dificuldades são muitas, já se sabe. Financeiras? "O dinheiro era importante, mas esse nem é o maior problema. O problema principal é mesmo a falta de espaço", começa por dizer José Palmeira. "Às vezes andamos a saltar de um lado para o outro, mas até já foi pior!", completa Graziela. Neste momento, o Departamento conta com cerca de 80 atletas, desde as mais novinhas ("Minis") às Séniores. "Por termos tantas atletas é que era mesmo muito importante termos um Pavilhão. Aqui às vezes temos que dividir isto a meio, para treinarem duas equipas em simultâneo. E podia-se treinar mais tempo...", afirma o Director. A época começou com uma forte indefinição, o que dificultou o planeamento da temporada. "Não se sabia se dava para continuar, e por isso algumas atletas acabaram por sair. Além disso, há outros clubes com melhores condições, e por isso torna-se ainda mais difícil", explica Graziela Palmeira. O Boavista não tem capacidade financeira para pagar salários às jogadoras, e outros clubes podem fazê-lo. "Se fosse possível pagávamos o passe para o transporte a 2 ou 3 atletas, que são de longe". Efectivamente, é impressionante a quantidade de jogadoras que vêm de longe do Porto. Enquanto o treino decorre, com a boa disposição a dar lugar a uma grande concentração e empenho, Graziela vai dizendo de onde as atletas são. "Aquela é de Ovar... aquela ali é de Gondomar. Acho que aquela de branco é de Espinho".

Segundo Graziela Palmeira, é o gosto pelo Voleibol e a reputação que o Boavista ainda tem que atraem jogadoras para a equipa. "Ainda há 7 anos, se não estou em erro, conseguimos ganhar uma Taça. Temos um historial recheado", diz com orgulho. Entretanto, é preciso fazer uns ajustes na rede, e José Palmeira, um autêntico faz-tudo, levanta-se e trata de resolver a situação. Quem não poupa elogios a esta dupla é o treinador, o Prof. Carlos Ferreira. "Temos duas pessoas fantásticas à frente do Departamento: a Graziela e o Zé. Eles fazem praticamente tudo, vivem para o Voleibol, há mesmo muito amor pela modalidade e pelo clube", realça o treinador axadrezado.


"Carolice" é a palavra mais ouvida nos dias que correm quando se fala de modalidades amadoras. O Voleibol do Boavista não é excepção. As jogadoras representam o Boavista por amor à camisola e por amor à modalidade. Raquel Palmeira, capitã de equipa, reforça essa ideia. "Nós não ganhamos nada a não ser tempo bem passado. A equipa é que nos faz estar aqui, gostamos muito de estar umas com as outras", diz a Capitã axadrezada. E quando se fala no apoio dos adeptos, os olhos de todos brilham e chovem elogios quase emocionados. Raquel diz que toda a gente está "muito, mas muito contente" com a presença de boavisteiros nos últimos jogos. "Às vezes nem no Acácio Lello havia tanta gente! Só o facto de as pessoas se deslocarem aqui deixa-nos muito contentes".

Carlos Ferreira reforça essa ideia. Vindo do Esmoriz e a abraçar pela primeira vez um projecto de Voleibol Feminio, o Professor agradece em nome da equipa todo o apoio dos boavisteiros. "Tem sido fantástico", remata.
O normal decorrer do treino é perturbado por um lance em que duas atletas saem lesionadas. Preocupados, José e Graziela verificam se está tudo bem com as jogadoras. Uma parece recomposta do pequeno acidente, mas o caso de Vanessa indica ser um pouco mais grave. Desanimada, senta-se num banco e estuda cuidadosamente o tornozelo. "Ao menos não está inchado", diz José, entre suspiros. Vanessa acaba por não voltar ao treino, sendo aconselhada repetidamente pelo treinador a fazer gelo nas horas seguintes. Com o treino já a decorrer normalmente, Graziela dá conta das principais despesas do clube. "Temos que pagar arbitragem, transporte... O dinheiro é contadinho, tem que haver uma grande organização". Por outro lado, Raquel Palmeira lamenta a falta de apoios da Câmara Municipal ao desporto. "Em Matosinhos, por exemplo, há condições excelentes. É pena aqui ninguém pensar no desporto", lamenta. Desportivamente, o Prof. Carlos Ferreira está satisfeito. "A equipa é quase toda nova, e o nosso objectivo é ficarmos na A2. As derrotas que temos até agora foram contra equipas mais fortes, mais experientes", explica.

Joana Almeida foi uma das novas atletas a chegar ao Boavista. Depois de um ano parada, a atleta chegou ao emblema axadrezado cheia de vontade, e diz que houve uma grande facilidade na adaptação. "Adaptamo-nos muito bem umas às outras, e sabemos que temos que estar fortes e unidas". E novamente os elogios ao apoio dos adeptos nos últimos jogos. "Nunca tinha jogado com um apoio destes, sentimos que há pessoas lá fora a lutar por nós, e isso é gratificante", diz com um largo sorriso. Joana sublinha que isso representa também uma responsabilidade acrescida para as jogadoras. "Sentimos que temos que ganhar por nós, pelo emblema que representamos, e também por eles, que nos estão a apoiar".


O treino está perto do fim, até porque a seguir vai treinar outra equipa de Voleibol. Os olhos continuam colados na bola, e os minutos são aproveitados mesmo até ao último momento. Quando chega a hora de saída, as atletas recolhem aos balneários. Com um ar cansado, mas sempre bem-disposto, despedem-se e pedem ainda mais apoio no próximo jogo no Pavilhão da Escola Pêro Vaz de Caminha. E sabemos que todos juntos podemos mostrar toda a força do Boavista. Boavista, muito mais que futebol.
Tirado do site do BOAVISTA

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